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A LUTA CONTRA A MORTE

Por Jornal Cidade de Agudos em 25/04/2024 às 11:37:09

É inegável a luta do homem contra a morte. O ser humano nunca se conformou com a sentença que lhe é destinada desde o momento do nascimento. Nascemos já com o passaporte carimbado com uma data de extinção. Assombrados com essa finitude, diferentemente dos cientistas, muitos romancistas e poetas têm se dedicado à morte como um problema metafísico e como fonte do sentido da vida.

Há um estudo bastante interessante sobre o assunto, de autoria de Yuval Noah Harari, em seu livro Homo Deus. A partir de agora, vamos extrair alguns trechos desse assunto, dando-lhe um caráter mais palatável para um artigo despretensioso como este.

Para certo grupo de pessoas a morte é um problema técnico que pode ser resolvido. E todo problema técnico tem uma solução técnica. Como no momento não se dispõe de solução para todos esses problemas, tem-se investido muito dinheiro em pesquisas sobre eles. E isto tem propiciado um vertiginoso desenvolvimento no campo da engenharia genética, da medicina regressiva e da nanotecnologia.

Se a morte era a especialidade de sacerdotes e teólogos, hoje são os engenheiros que estão assumindo essa causa. As células cancerosas podem ser mortas por meio da quimioterapia ou por nanorrobôs. Os germes nos pulmões podem ser combatidos com antibióticos. Se o coração parar de bater é possível fortificá-lo com medicamentos e choques elétricos — além disso, ainda há o recurso de implantes.

A grande maioria dos cientistas, médicos, estudiosos em geral ainda se distancia de sonhos explícitos com a imortalidade.

Uma minoria crescente, contudo, vem falando mais abertamente sobre o assunto. Kurzell e De Grey acreditam que uma pessoa saudável e com uma conta bancária generosa terá futuramente uma chance séria de imortalidade, enganando a morte uma década por vez. A cada 10 anos, poderemos ir a uma clínica e receber um tratamento renovador que não só irá curar doenças como regenerar tecidos doentes e aumentar a eficácia de órgãos dos sentidos e cérebro. Antes de o próximo tratamento, os médicos terão inventado novos medicamentos e novas atualizações. Será que uma meta mais modesta como apenas aumentar em muito a expectativa de vida não seria um começo melhor? Embora isto esteja aquém da imortalidade, tal conquista mesmo assim iria provocar sensíveis mudanças na sociedade.

Embora a duração média da vida tenha duplicado nos últimos 100 anos, não é razoável concluir que possamos duplicá-la novamente para alcançar 150 anos no século seguinte. Mesmo que não conquistemos a imortalidade durante nossa existência, a guerra contra a morte ainda será o projeto emblemático do próximo século. Enquanto a morte estiver motivada por alguma coisa, estaremos empenhados em suprimi-la.

Glória eterna, cerimônias comemorativas, sonhos com o paraíso não satisfazem o desejo do ser humano que é não morrer. Grande parte de nossa criatividade artística, de nosso comprometimento político e de nossa fé religiosa é alimentada pelo medo da morte.

Quando a ciência fizer um progresso significativo na guerra contra a morte, o mundo dará uma sensacional reviravolta. Espere só para ver o que farão magnatas idosos e estrelinhas de Hollywood quando pensarem que o elixir da nova vida estará ao alcance deles. Os esforços científicos desencadearão conflitos amargos. Todas as guerras e todos os embates da história tornar-se-ão um pálido prelúdio da verdadeira batalha em busca dessa até agora inalcançável felicidade eterna.

Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP
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